O Pentecostalismo em Processo

por Johnny Bernardo*

O Pentecostalismo passa por um gradual processo de adaptação, de mudanças observadas por pesquisadores como os doutores Paul Freston e Ricardo Mariano. Paul observa que, pelo menos nos primeiros 40 anos de atuação no Brasil, o pentecostalismo (até então clássico) não havia ainda conseguido alcançar não mais do que algumas dezenas de membros em Estados do Norte, Nordeste, Sul e Sudeste. Após os anos 50 há um significativo crescimento a partir de Estados como São Paulo e Rio de Janeiro, mas não sem abrir mão de algumas características anteriores.

A chegada da Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ) à cidade de São João da Boa Vista, no interior de São Paulo, em 1951, e o estabelecimento do Bispo Walter Robert MacAlister, primeiro em São Paulo e depois no Rio de Janeiro, e a consequente fundação da Igreja Cristã de Nova Vida (ICNV), marcam o início do que Paul chama de “segunda onda pentecostal brasileira”. Foram duas as “inovações” trazidas pela IEQ e a ICNV ao cenário evangélico nacional: introdução de uma liturgia diferenciada, menos clássica, e o uso de meios de comunicação. De fato, a chegada das igrejas de origem norte-americana deu um novo impulso ao movimento evangélico brasileiro.

Membros de igrejas pentecostais históricas aderiram às novas denominações, alguns dos quais viriam a compor o quadro de liderança destas novas denominações. Houve uma mudança na configuração nacional, principalmente a partir da introdução de campanhas de cura e libertação que influenciaram na fundação de igrejas como a Pentecostal Deus é Amor (1962), Casa da Benção (1964) e, em 1977, na Igreja Universal. Antes, a Igreja O Brasil para Cristo (1955) já despontava no cenário evangélico brasileiro, com características distintas em relação às Assembleias de Deus.

Demonizado por pentecostais clássicos, o rádio aos poucos passou a ser utilizado por igrejas como O Brasil para Cristo, e mais massivamente pelo ministério de MacAlister. O período também coincide com a chegada da televisão ao Brasil, e com uma consequente “demonização” da tecnologia por parte das igrejas pentecostais clássicas e mesmo pelas novas, como a Igreja Pentecostal Deus é Amor – a última sendo a única do período que ainda mantem uma postura radical em relação ao aparelho, apesar de alguns avanços recentes em relação à internet. No começo dos anos 80 há uma nova configuração decorrente da introdução da Teologia da Prosperidade, por Edir Macedo.

Inicialmente resistente ao modelo importado dos EUA, o pentecostalismo aos poucos iria aderir a aspectos midiáticos, de organização política e pregações baseadas na Confissão Positiva. Novas denominações como a Internacional da Graça de Deus, Renascer em Cristo, Mundial do Poder de Deus, estabeleceriam um novo marco no movimento evangélico, parte da “terceira onda pentecostal”, de acordo com o modelo de Paul. Outro fato importante a se destacar é que, desde os anos 50, São Paulo e Rio de Janeiro se consolidam como celeiros do pentecostalismo.

A base sobre a qual o antigo e o novo pentecostalismo se estabelecem – e que é tema de pesquisas do sociólogo Ricardo Mariano, como em Neopentecostais: sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil (2005) – também iria influenciar no desenvolvimento de novas posturas, menos conservadoras em matéria de usos e costumes, porém enfáticas em questões sociais. O investimento em organizações sociais – inclusive base de análise de Paul em Pentecostalism and Politics – faz parte de um contexto político nacional, tendo como eixo Rio-São Paulo.

Ao mesmo tempo em que igrejas pentecostais históricas crescem em cultura e compreensão do contexto social, da distinção entre o Estado e a Igreja, um pequeno grupo segue na contramão de alguns avanços verificados no contexto nacional, e que inclusive é dissecado por Paul no Pentecostalism and Politics. Entretanto, há de destacar que, de um modo geral, a tratativa da igreja em relação à sociedade tem melhorado nos últimos anos, particularmente a partir da compreensão da necessidade de uma maior aproximação com o próximo, no seu trato com suas necessidades. É um avanço, apesar da existência de grupos contrários ao entendimento, mas em fase de extinção.

É justificável a especulação de que, em 2040, os evangélicos representarão 50% do total da população nacional, mas também é passível de projeção que a diversidade religiosa e secular também será uma realidade no período. Concluindo, a igreja evangélica brasileira irá se consolidar como a “maior denominação religiosa do País”, mas com características totalmente diversas das verificadas no passado e mesmo de algumas características atuais. Posturas agressivas não terão mais espaço na realidade de 2040. Ao mesmo tempo, haverá um crescimento intelectual, cultural, também decorrente do nivelamento social das classes C e D que hoje compõem o pentecostalismo.




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*é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, autor de dois livros (dentre os quais a Enciclopédia Temática de Religião), colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão (NAPEC), e está em fase de conclusão do licenciamento em Ciências Sociais pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP).

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